Nestes dias de trabalho intenso no meu túnel de realidade, da qual me relaciono com a grande massa de nossa bola de lama, fui surpreendido por uma situação bastante pitoresca. Cá estava eu escrevendo algumas linhas de devaneios, quando vejo a minha frente a figura de um pequeno Galatraxiano. Não utilizo nenhum tipo de substâncias entorpecentes, ou tinha bebido alguma coisa alucinógena, simplesmente apareceu na minha frente um indivíduo, responsável pela troca de extintores de meu prédio, que era um Galatraxiano típico.
Pequeno, magro, olhos esbugalhados, orelhas grandes, nariz anduco, meio careca e com um andar típico que o denunciou. Imediatamente soltei uma saudação em seu idioma e ele surpreso fitou-me assustado.
- Calma amigo - disse - sou Papa Doc Ablurat, discordiano e já visitei e costumo visitar seu mundo. Fique tranquilo que sou o mais discreto possível.
- Como você me reconheceu ? pergunto ainda assustado
- Quem conhece um Galatraxiano, sabe identificar um rapidamente - repondi - mas por favor não se preocupe, seu segredo está guardado. - imediatamente falei a frase de juramento Galatraxiano (do qual não posso revelar aqui, por motivos óbvios, somente pessoas de confiança dos Galatraxianos sabem) e ele sorriu.
- Obrigado Papa, é bom ter pessoas como o senhor nesta bola de lama. disse
- Mas meu caro, pergunto de curiosidade, o que estás fazendo aqui ?
- Bom meu nome é Timusin Untredign, sou um cientista social de Galatrax...
- AH ! Conheço seus trabalhos ! Nossa é uma honra encontrá-lo pessoalmente ! exclamei .
- Obrigado - sorriu - estou aqui fazendo um estudo sobre o seu povo e por isso resolvi fazer isso como uma pessoa humilde de sua raça.
- Nossa que interessante !
- Sim, mas Papa, posso perguntar uma coisa ?
- A vontade meu amigo.
- Por que eles não querem assumir certas coisas ? - principiou - Veja bem detectei uma série de fatores incríveis em termos de potencial mental e psicológico, mas a grande maioria se esconde ou melhor se enterra numa massa de receios, medos, estigmas e dogmas. Estou assustado.
- Meu caro - suspirei - vários homens já falaram isso, alguns foram taxados de loucos e sonhadores. A maioria dorme nesta letargia e se alimenta de ilusões. Muitos tem medo de quebrar sua normalidade e se fractalizar nas diversas linhas do conhecimento.
- Isto eu já percebi caro Papa, mas por que ?
- As poucas conclusões de minhas pesquisas iniciais, mostram uma vontade de auto-ilusão. As pessoas na sua maioria estão atreladas a rituais criados pela sociedade e não querem escapar ou melhor assumir o peso do conhecimento. Resolvi tecer críticas a respeito, mas as pessoas me tomam como um bufão, pois falo coisas que para eles são devaneios, mas no fundo eles sabem que é verdade.
- Mas você não fica chateado com isso ?
- Não, muito pelo contrário - eu ri - acho engraçado esta história, tento falar coisas sérias através de paradoxos, possíveis absurdos e fragmentos de verdade.
- Isto lembra os zen budistas ou os sufis de seu mundo... comentou
- Sim, eles foram para muitos, os primeirosdiscordianos, que tentaram mostrar através do absurdo a verdade de muitas coisas.
- Pois é, li vários contos deles e vi que eram grandes sábios, pessoas que já zombavam desta fragilidade do real, dos habitantes daqui.
- Papa - disse pegando um extintor - preciso ir, vamos continuar esta conversa outra hora ?
- Sim meu caro - disse - irei em Galatrax em breve. Podemos nos encontrar ?
- Claro, tome meu cartão - passou-me seu cartão em galatraxiano e eu retribui com o meu.
- Saudações e nos vemos em breve. despediu-se d emim
Ele sorriu e saiu porta afora carregando o extintor.
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